21 Maio 2015      17:46

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O QUE É PRECISO PARA APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA?

Aprender uma língua estrangeira, seja ela qual for, é uma tarefa árdua que exige dedicação, esforço e perseverança. No entanto, muitas vezes este estímulo e dedicação não parecem colher frutos e a sensação de incapacidade de se exprimir na língua estrangeira deixa-nos desmotivados e desapontados. Por isso, é importante identificarmos quais são os fatores cognitivos, sociais, biológicos ou afetivos que propiciam e auxiliam a aprendizagem. Existem várias características do aprendente que facilitam a aquisição de uma língua estrangeira. Inteligência, aptidão, personalidade, motivação e idade são, provavelmente, as mais relevantes.

Na aprendizagem de uma língua estrangeira, a inteligência está geralmente relacionada com o desempenho dos alunos em atividades de leitura, gramática ou aquisição de vocabulário. Entretanto, parece não haver relação direta entre a inteligência do aluno e a sua capacidade de produzir discurso e interagir oralmente com outros falantes da língua. Atualmente, psicólogos e pedagogos propõem uma visão múltipla da inteligência, ou seja, qualquer um de nós possui um conjunto de capacidades cognitivas, como por exemplo, linguística, lógico-matemática, espacial, musical, entre outras.

A aptidão talvez seja a característica mais reconhecida quando falamos de aprendizagem de línguas. É certo que alguns de nós parecem possuir uma maior ‘facilidade’ para aprender uma língua estrangeira, assim como outros terão mais inclinação para aprenderem a tocar piano ou lidarem com conceitos matemáticos. Portanto, podemos, ou não, possuir uma aptidão linguística. Mas não há apenas uma aptidão mas sim várias capacidades que nos permitem desenvolver diferentes competências linguísticas como, por exemplo, a habilidade para identificarmos os sons de uma língua estrangeira e serem relembrados posteriormente, a habilidade para reconhecer as funções gramaticais das palavras em frases e a habilidade para a aquisição de vocabulário.

Não há dúvidas de que diferentes traços da personalidade do aprendente de uma língua estrangeira podem afetar a aquisição de determinadas características da língua. Qual é a diferença entre um aprendente introvertido e outro extrovertido? E entre aquele que tem uma maior propensão a correr riscos, é confiante e com autoestima elevada, em oposição a um aluno mais hesitante e descrente das suas capacidades? Apesar destas diferenças, o importante é termos atenção ao nosso objetivo de aprendizagem. Queremos possuir competência comunicativa, ou seja, perceber o falante e sermos percebidos, ainda que cometamos alguns erros? Ou queremos ser capazes de construir um discurso com total correção gramatical? O importante é que diferentes traços de personalidade propiciam a aprendizagem de diferentes características de uma língua.

A motivação é, provavelmente, a característica mais importante de todas. Seja por um desejo de aperfeiçoamento pessoal ou enriquecimento cultural, para a obtenção de notas ou requisitos académicos, por necessidades profissionais, pelo gosto pela língua, pela identificação com a sua comunidade falante, ou até mesmo pelo desejo de se tornar um membro desta comunidade, a motivação do aprendente é complexa e muda com o tempo. Mas independentemente do que nos move a aprender uma língua, quanto mais motivados estivermos, mais rápido e melhor aprenderemos.

Finalmente, não há uma idade ideal para começar a aprender uma língua. A verdade é que quanto mais cedo iniciar a aprendizagem, provavelmente o aprendente terá uma pronúncia mais próxima de um falante nativo. Mas numa aprendizagem precoce, o que realmente importa é quanto tempo o aluno tem contacto direto com a língua pois quanto maior a exposição inicial, maior será a probabilidade de desenvolvimento de competência comunicativa. Por outro lado, aprendentes mais velhos serão mais eficazes no desenvolvimento de estratégias de memória e de competências de resolução de problemas, fatores que certamente auxiliarão a aprendizagem de regras gramaticais e de vocabulário.

Em suma, não importa a idade, os traços de personalidade, a aptidão ou mesmo a inteligência. Aprender uma língua é uma atividade complexa mas um aprendente motivado será capaz de superar a maioria dos obstáculos.

Luís Guerra é docente do Departamento de Linguística e Literaturas da Universidade de Évora e Director do Centro de Línguas da Escola de Ciências Sociais.