14 Abril 2015      18:32

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O Lago dos Tubarões ou das Sardinhas Enlatadas?

Quando decidi começar a escrever estas crónicas comprometi-me comigo mesmo a tentar ser o menos controverso possível, optando sempre por abordar questões económicas de modo abstrato em detrimento de entrar em linha com temas da atualidade.

Durou… até hoje! Porque vou escrever sobre o Lago dos Tubarões, (a triste) versão portuguesa.

Foi com alguma expetativa que assisti ao primeiro episódio da adaptação lusa ao “Shark Tank”, e a palavra que no final melhor expressava o meu estado de alma era DECEÇÃO.

Desiludiram-me as ideias sem grande interesse, as apresentações muito fracas, a postura dos empresários mais preocupados com detalhes como em decidir quem ficaria com a responsabilidade de pagar a Segurança Social do que com o que realmente importa e os projetos turísticos de dimensão tão reduzida que jamais permitiriam a recuperação do investimento. A imagem que passou dos empreendedores e empresários portugueses não corresponde de todo à realidade. Não é assim que podemos acreditar e esperar por um futuro melhor.

Depois de ultrapassada essa primeira impressão, não resisti à vontade de me expressar. Ainda que desconhecedor das audiências do programa, tenho perfeita noção de que (pelo menos) muitos dos nossos jovens viram ou melhor, acompanharam através dos meios sociais. Já vão perceber porque é que isto me preocupa.

Em outubro passado dinamizei uma sessão de empreendedorismo para jovens do ensino secundário, precisamente na altura em que se começou a falar da adaptação portuguesa ao programa. Todas as questões apresentadas pelas dezenas de jovens foram sobre o programa e sobre as minhas opiniões quanto a vender ou não uma empresa.

Tive também a sorte de ter já integrado o júri de alguns concursos de empreendedorismo onde aí sim vi ideias fantásticas, apresentações brilhantes e jovens empreendedores dos quais vamos seguramente ouvir falar no futuro.

É para esses jovens e todos os demais que escrevo esta crónica com a seguinte mensagem: esqueçam o Lago dos Tubarões!

Ser empreendedor não é nada daquilo! Ser empresário idem…e negociações são muito diferentes do que (a)parecem no ecrã.

Digo mais: nos dias de hoje um empreendedor pode ter acesso a uma panóplia tão vasta de apoios, que não faz sentido nenhum recorrer a um programa destes.

O que podem fazer, somente a título de exemplo:

  • Receber uma bolsa mensal durante o período em que estão a desenvolver e amadurecer a ideia;
  • Concorrer a um dos muitos concursos de empreendedorismo e usufruir do pacote de serviços que vem associado aos vencedores;
  • Aproveitar, quer os existentes, quer os futuros espaços de incubação que constituirão a oferta da nossa região;
  • Ter formação diversa e gratuita sobre aspetos como plano de negócios, plano de marketing ou como preparar um pitch;

Para além de que os financiamentos alternativos começam a afirmar-se cada vez mais. Uma boa ideia, devidamente pensada, desenvolvida e apresentada consegue seguramente financiamento, alternativo ou não.

Não será melhor opção usufruir de tudo isto? Ao invés de “fazer figura na TV”?

A única coisa que me dá algum conforto à alma é que talvez os nossos empreendedores tenham já interiorizado esta realidade e isso os tenha levado a dar uma grande nega ao Lago. Mas o “show must go on”… E o resultado foi o que se viu, um autêntico embaraço!