30 Outubro 2015      11:53

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MR. WATCHER É MADE IN ALENTEJO

Chama-se Marco Serrabulho e foi a partir de Évora que criou um sistema inteligente de separação de registos e valores nas caixas registadoras, que permite individualizar e responsabilizar eventuais falhas de caixa. 

 

Tribuna Alentejo – Marco, explique-nos um pouco como funciona o Mr. Watcher.

Marco Serrabulho – O projeto Mr. Watcher surgiu de uma necessidade real, num local específico. As falhas de caixa, ou seja, quando um comerciante chega ao fim de um dia de trabalho e tem registado no seu sistema que vendeu produtos no valor de 1.000€, mas só encontra na sua caixa 950€, encontra-se face um problema difícil de resolver, especialmente se tiver diversos colaboradores no atendimento. Os sistemas de registo atuais já permitem identificar qual o colaborador que faz cada transação. A dificuldade está que, os valores continuam a ser colocados todos na mesma gaveta. Assim, torna praticamente impossível determinar onde foi a falha, que pode ter diversas origens, como um engano, um troco mal feito, um cliente que não pagou e saiu ou foi retirado intencionalmente. Esta ultima hipótese, embora seja a mais difícil de qualquer empregador crer, é, da minha experiência, a mais comum. O caminho que me indicaram foi individualizar para responsabilizar. A lei portuguesa não permite responsabilidade solidária nestes casos. Então teve que se isolar no processo os atos de cada colaborador.

É aqui que aparece o Mr. Watcher. É um sistema que rapidamente, através de um identificador, e no nosso caso optámos pelas pulseiras pela sua versatilidade, comunica com o software do POS (a designação para o sistema de registo) e diz quem está a registar. No Mr. Watcher adicionamos gavetas de dinheiro, uma por cada funcionário a mexer na caixa em simultâneo. Assim, vai permitir que cada funcionário tenha uma gaveta exclusiva no seu turno. O sistema identifica o colaborador que se encontra no momento a registar, e só permite abrir a gaveta que lhe está atribuída. Registo efetuado, valor separado.

 

Tribuna Alentejo – Que circunstâncias o levaram a definir a prevenção de falhas de caixa como um objetivo seu?

Marco Serrabulho – O sentir na pele um problema que se arrastou durante demasiado tempo sem ter uma solução prática e ao mesmo tempo sentir que era um problema demasiado comum e sem uma solução simples. O Mr. Watcher gera efetivamente um controlo adicional muito elevado que limita estas perdas em vários sentidos. E no fundo, se resolveu o meu problema, achei que seria um desperdício não tentar resolver o problema de outros pela mesma via. Encarei isto como uma oportunidade de negócio que não podia desaproveitar. E existem pessoas verdadeiramente desesperadas com este problema... após uma pequena sondagem de mercado, tomei consciência que é um problema recorrente em inúmeros locais, mesmo onde não imaginava, como por exemplo nas grandes cadeias de lojas.

 

Tribuna Alentejo – Que outras soluções exitiam até então no mercado?

Marco Serrabulho – Existem na prática duas soluções atualmente: Uma caixa para cada colaborador, como é o caso das grandes superfícies, ou um colaborador dedicado à caixa, como se vê nalguns negócios de maior dimensão, ou então o dono ou o gerente assumem esse papel. No meu caso, que é uma pequena cafetaria, era incomportável quer uma, quer outra situação, quer pelas limitações de espaço, quer de gestão de pessoal, da organização do trabalho ou financeiras. O Mr. Watcher surge como um processo natural em que o mesmo POS se desmultiplica, a um custo inferior às outras soluções.

 

Tribuna Alentejo – Que principais obstáculos encontrou quando quis passar da teoria à prática?

Marco Serrabulho – O processo foi moroso, com uma fase de teste e melhoramentos longos, com reações por parte dos colaboradores por vezes difíceis, de difícil aceitação do novo sistema. De resto, quando senti que o produto estava devidamente testado, depois de 9 meses, avancei para a criação da marca. De salientar o apoio incondicional do PCTA, na altura com o João Mateus e o Bruno Palma a apoiarem em tudo o que podiam. Mas o mais difícil é quando pegamos no nosso produto experimental e tentamos avançar para a frente. Os processos de industrialização, patenteamento, marketing, distribuição e serviços de suporte são verdadeiros desafios, cheios de obstáculos, dificuldades e morosos. O nosso produto passou por uma fase de teste, em locais distintos, tanto no interior do país como num grande centro urbano e o resultado foi sempre muito positivo. E com grande agrado por parte dos donos desses estabelecimentos, pois resolve mesmo um problema.

 

Tribuna Alentejo – Quem são os poteciais clientes do Mr. Watcher e quais as principais vantagens em aderir?

Marco Serrabulho – O público alvo inicial deste projeto eram os pequenos negócios com características específicas: mais de 2 funcionários a mexer na caixa ao mesmo tempo, com ou sem turnos, estabelecimentos com muitas transações, ou seja, grande volume de produtos de baixo valor, em que o exemplo típico é a cafetaria/pastelaria. Com o evoluir do projeto, percebemos que lojas, livrarias, armazéns, a hotelaria e até já nos sugeriram bilheteiras, passaram a ser locais a ponderar. O mercado também é global, e já tivemos alguns contactos para testar em Moçambique e mesmo para o Brasil. Por enquanto estamos em fase de industrialização e ponderamos para breve o lançamento dessa versão para o mercado interno e externo.

Tribuna Alentejo – Considera que a sua experiência profissional anterior foi relevante para conseguir erguer este projeto?

Marco Serrabulho – Sem dúvida. Enquanto professor estive diversos anos como responsável da parte de informática do Agrupamentos de Escolas n.º 3, e fui ainda o coordenador do PTE (Plano Tecnológico da Educação) do mesmo agrupamento. Isso forneceu-me boa parte do background tecnológico que utilizei no projeto Mr. Watcher. Tal como a experiência enquanto gerente da cafetaria também me permitiu conhecer bem o circuito do dinheiro nestes negócios e perceber onde era desviado.

 

Tribuna Alentejo – Como é ser empreendedor na área tecnológica no Alentejo? Que condicionantes encontra?

Marco Serrabulho – Hoje em dia é significativamente mais fácil. Com o proliferar de incubadoras de startups em com a facilidade de comunicação que existe, ter uma empresa na planície alentejana ou no centro de Nova York é irrelevante, quando se trata de prestação de serviços online. Um bom exemplo disso é a Allentapp, que é uma empresa de sucesso nesse tipo de negócio. Quando passamos para a áreas como a criação e venda de produtos, sente-se a diferença e a dificuldade em chegar à distribuição. O mercado local e mesmo regional é muito pequeno para este tipo de produto e a dificuldade tem sido os canais de marketing e distribuição, mas já está a ser resolvida. No entanto existem empresas locais com sucesso nessa área, como por exemplo a Gestsport.

 

Tribuna Alentejo – Qual é a sua relação com o Alentejo?

Marco Serrabulho – Toda. É o local onde cresci e vivi e me sinto confortável, me sinto em casa. O Alentejo está na moda por alguma razão, penso assim, porque ainda se continua a ter uma qualidade de vida bastante boa, onde se conseguiu manter até agora uma identidade e uma culturalidade que é genuína, e isso agrada a quem nos visita. Temos produtos de excelência, no meio dos quais eu cresci, e por isso muitas vezes não conseguimos dar o verdadeiro valor, simplesmente porque é intrínseco. Falo do pão, do vinho, dos queijos, dos enchidos... mas também da paisagem, do ordenamento, da preservação do património. Nós andamos pelo Alentejo, e muitas vezes nem conseguimos ter noção do bonito que é uma casa caiada. Que para quem nos visita, muitas vezes tem tanto valor como ver uma catedral.

 

Tribuna Alentejo – O que diria a outras pessoas que têm uma ideia e que querem passar da teoria à ação?

Marco Serrabulho – Que não é fácil, que necessita de tempo e de perseverança. Ser empreendedor não é uma questão de estatuto, nem de dinheiro, nem de facilitismo. Eu diria que é um modo de encarar a vida e considero muitas vezes como um teste de resistência. Pegar numa ideia, desenvolvê-la, testar a mesma, fazer processos industriais de fabrico, gerir pessoal, certificações, financiamentos, processos contabilísticos, inspeções, etc., etc., etc. ... não é mesmo tarefa fácil nem rápida. Mas quem resiste a tudo isto, muitas vezes tem um retorno que compensa. E não falo só financeiramente. Também em termos de realização pessoal e de deixar uma marca. Penso que é preciso uma boa ideia, mas para isso tem que vir colmatar uma necessidade. Só é uma boa ideia se resolver um problema de forma eficaz, e se preencher uma falha. Mas também é um exercício de fé, de acreditar. Senão não vale a pena.

Conheça mais sobre este projeto inovador em http://www.mrwatcher.pt/