13 Agosto 2015      12:18

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MANUAL PARA UMA CAMPANHA POLÍTICA

“Conhece o teu inimigo, conhece-te a ti próprio, conhece o terreno e sairás sempre triunfador”.

                                                                                                                                                Sun-Tzu, “A Arte da Guerra”.

 

A Arte da Guerra - um tratado militar escrito durante o século IV a.C. pelo estratega chinês Sun Tzu - tem sido um manual quer nos negócios, quer na política.

Por vezes, no rescaldo de derrotas eleitorais - quer nas equipas de campanha, quer em apoiantes mais crentes – surgem dúvidas como: “Com propostas tão boas como é que perdeu as eleições?”, “Este era o melhor candidato, uma pessoa com carisma, como é que não ganhou?”, “Como é que tem tão pouca popularidade?”, “As pessoas não foram com a cara dele…”

No staff, além de questionar o que falhou, alguns sacodem a água do capote. Sem dúvida, serão muitos os fatores que podem justificar uma derrota eleitoral e todos os participantes e envolvidos se culpam - as condições políticas, as económicas, as sociais, do momento; o momento de candidatura, a equipa, o desgaste, o spinning, a adaptação à era digital, etc. A campanha pode não ser bem planeada, pode haver percalços, e o facto de não se desenrolar de um modo adequado pode deitar a perder o êxito de um bom candidato, ou o contrário.

E é claro que, ao longo de um processo tão complexo, com tantas pessoas envolvidas, e que por vezes se estende no tempo durante meses, até a máquina mais perfeita está sujeita a erros e enganos, e que são prejudiciais - e por vezes até suicidas - para as aspirações da candidatura. Por vezes até se pode dar conta das falhas, dos problemas, mas a resposta pode ser lenta, desadequada ou a situação pode mesmo ser irreversível.

Para os spin doctors existem 5 elementos imprescindíveis no marketing político: a mensagem; os recursos; o ativismo; o tempo e o talento.

Também imprescindível é o respeito e perceber desde a primeira hora que entender e focar-se no eleitor, no público-alvo – não dispersar com assuntos paralelos e/ou secundários – e procurar criar uma relação entre candidatos e eleitores. Aqui, como a mulher de César, ser pode não ser suficiente, terá também que parecer.

A política, por lidar com pessoas, não é uma ciência exata e as soluções não são lineares, no entanto, há padrões que se têm mostrado mais corretos e nada como o bom senso e uma apurada sensibilidade social para a realização de uma boa campanha.

Alejandro Guerrero Monroy, Politólogo da Universidad Iberoamericana da Cidade do México, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Complutense de Madrid, identificou 17 erros comuns em campanhas eleitorais:

 

1. Pensar que o marketing político e o marketing comercial são iguais

Tal como no marketing comercial, também o político usa as emoções para cativar os leitores, no entanto, a máquina de promoção de uma campanha política baseia-se sobretudo na satisfação do eleitor com a qualidade de vida que uma governação, uma liderança de uma instituição pública, proporciona.

 

2. Alicerçar a campanha só na publicidade

Numa campanha política o contato direto com as pessoas é essencial; mas atenção, as aparições públicas não devem ser forçadas.

 

3. Esquecer-se das pessoas, dos eleitores

É fundamental oferecer soluções para as necessidades mais prementes dos cidadãos, mas, em simultâneo, deve ter uma noção geral dos grandes problemas do país, da região ou do concelho. As pessoas querem que ser ouvidas e reclamam atenção às suas preocupações quotidianas.

 

4. Excesso de confiança e acreditar que só existe um caminho para ganhar

O excesso de confiança é um erro crasso, além de transmitir arrogância. Não só um caminho para a vitória; um candidato deve estar aberto a implementar variadas estratégias, sobretudo as mais criativas e inovadoras.

 

5. Cair em provocações e deixar-se dominar pela agenda dos oponentes

A equipa de campanha deve ter em conta que vão existir ataques constantes dos oponentes políticos; sobretudo quando representa um perigo sério ao seu resultado. Deste modo, os adversários vão querer ganhar a sua atenção e dispersa-lo através de provocações. É importante saber como, quando e o quê responder perante uma situação desta natureza.

 

6. Concentrar-se e confiar só nas sondagens

Mais um erro comum é este: apegar-se às sondagens e confiar plenamente nelas. Quando tem a preferência dos eleitores nas sondagens é quando a equipa de campanha deve ter mais cuidado para não cometer erros.

 

7. Querer “acabar” com o opositor

Não é inimigo, nem adversário. Pensar-se que se tem que “arrumar” completamente o adversário pode ser contraproducente. A “luta” dura até ao fim e as consequências não são fatais. O eleitorado quer e prefere campanhas e disputas limpas e com elevação.

 

8. Confiar em exclusivo no partido e permitir que outros dirijam a campanha

É normal algum desfasamento entre o partido e as pessoas que participam na campanha. Isto reflete descoordenação e transcende o trabalho diário da campanha; transmite uma má imagem e o eleitor percebe isso.

 

9. Não ter assessores especialistas em várias áreas

É muito importante rodear-se de pessoas com conhecimentos e competências em áreas essenciais e específicas. A diversidade e abrangência de conhecimentos tornam a candidatura mais rica e melhora o trabalho da máquina de campanha.

 

10. Não ter estratégia, não definir um rumo

Deve ter um plano estratégico e um cronograma de atividades. Os spin doctors da campanha devem seguir o rumo que necessita e delineou e aquele que é mais frutífero para o concretizar dos objetivos.

 

11. Má gestão do tempo

Deve fazer-se uma campanha em que é sensível e meticulosos com a gestão do tempo e dos timmings. O tempo pode ser um grande aliado, mas também um grande inimigo.

 

12. Não ter a informação necessária sobre o público-alvo: os eleitores

 Também no marketing político se deve fazer um estudo de mercado e contar o máximo de informação disponível onde quer que se vá (idade, sexo, condição social, cultura etc. dos eleitores e público alvo. Aliás, disso depende a realização de bons discursos e da absorção da mensagem que quer passar.

 

13. Não segmentar a campanha

 É imprescindível segmentar a campanha; definir objetivos a curto/médio prazo, dividir por etapas. Em cada uma delas deve fazer um balanço, ter uma estratégia geral e uma específica, analisar os riscos e fazer um diagnóstico sério, uma análise SWOT - Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).

 

14. Falta de compromisso da equipa

Grande parte do êxito de um empreendimento, seja empresarial ou político, depende da motivação e entrega dos colaboradores. Sentir-se parte de uma equipa, “vestir a camisola”, é essencial para que qualquer equipa tenha êxito. Por isso, é muito importante que exista que haja uma boa relação entre os membros da equipa, um bom ambiente de trabalho onde encaixem todos e que a equipa acredite que o seu candidato é o melhor e vai ganhar.

 

15. Não ter uma estratégia digital

Em pleno séc. XXI é impensável acreditar que se pode fazer uma campanha política sem recurso às novas tecnologias e às redes sociais. Além de eficazes e abrangentes a campanha torna-se menos dispendiosa.

 

16. “Eu sou o candidato e eu sei tudo”. 

Quando um candidato não ouve quem o acompanha ou com quem se vai cruzando – quer seja parte da máquina de campanha ou eleitor – e toma sozinho as decisões sobre o que se passa ou faz na campanha a candidatura está em maus lençóis. Devem existir pequenas reuniões regulares e com uma ordem de trabalhos definida e concreta e as opiniões dos dirigentes da campanha e dos especialistas deve ser tida em conta.

  

17. “Eu já ganhei antes assim e agora vai ser igual”

Está erradíssimo pensar assim. Não deve confiar que, por uma estratégia ter funcionado em determinada altura do passado, o fazer ter na atualidade. Os contextos políticos e sociais mudam; o cenário eleitoral muda, e isso deve ser tido em conta.

 

Além do que já foi dito, muitas outras coisas podem estragar uma campanha política como por exemplo a incoerência e uma equipa a falar a várias vozes. Hoje é verde, amanhã é azul. Os processos de escolha das equipas devem ser claros, os objetivos devem ser concretos e bem explicados e, como já deve ter notado, não deve usar cartazes sem nexo, slogans desadequados, dados inventados ou insistir em promessas que já anteriormente não cumpriu.  

Se antes de chegar ao poder utilizar políticas de “terra queimada”, de “dividir para reinar”, estará a retirar valor aquilo a que pretende chegar. No pós-eleições, e caso vença, prepare-se para ter um caminho mais difícil, pois terá que juntar os cacos além de tudo o mais que as suas novas funções lhe trarão.

Como disse um dia Francisco Sá Carneiro "O fim principal do poder político é o serviço da pessoa." e deverá ser, obrigatoriamente, esta a base e o ponto de partida de qualquer candidatura: o respeito pelo eleitor.

 

Com o apoio da agência:

Realizado com base em artigo original daqui