4 Outubro 2015      19:33

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LEGISLATIVAS 2015 - AS RESSACAS DE AMANHÃ

 

Hoje é domingo, amanhã é segunda.

Mas hoje não é um domingo qualquer, e amanhã também não será uma segunda qualquer.

Hoje há eleições e amanhã pode haver nova composição governamental... ou não.

Os cenários são muitos e só ao longo da noite de hoje surgirão respostas.

Depois de uma campanha morna, e muito virada para o passado, a batalha dos debates terá terminado empatada; as sondagens sucederam-se e quase sempre dando uma vitória à coligação dos partidos do Governo (não todas), embora sem maioria para ninguém, o que parece alarmar muitos analistas e muitos políticos sobre a possível ingovernabilidade do país.

Nos países nórdicos isto é natural e chegam-se a formar governos estáveis com 5 ou mais partidos diferentes, mas, por exemplo, na Grécia, e para evitar estas situações, sempre que não existe uma maioria parlamentar são realizadas eleições, os partidos com menos de 3% não têm representação e o partido vencedor das eleições recebe automaticamente um bónus de 50 dos 300 lugares no Parlamento.

De momento, nota positiva para a diminuição da abstenção, uma pequena vitória, mas uma vitória, do sistema democrático.

Se amanhã se comprovarem as sondagens (cuja legitimidade foi questionada), a coligação PSD/CDS – a PàF (Portugal à Frente) para governar terá que negociar os dossiers com a oposição. Isto se conseguir passar a barreira da aprovação do Orçamento de Estado, para a qual necessita do maior partido da oposição, o PS.

Mesmo tendo mais votos, a coligação PàF pode ter menos mandatos que o PS e isso pode empurrar Passos para fora da equação e aproximar Portas e o CDS de Costa e do PS, mas o Presidente da República terá uma palavra a dizer aqui.

O presidente, na noite de sábado, e em declaração a todos os portugueses, apelou ao voto considerando este um “ato eleitoral particularmente importante para o futuro de Portugal”, no entanto, não diz o que fará se uma situação mais complicada acontecer, mas assegurou que estudou todos os cenários possíveis e que “não são admissíveis soluções governativas construídas à margem do Parlamento, dos resultados eleitorais e das forças partidárias". Mas fica a dúvida: insistirá Cavaco em ter uma maioria na Assembleia?

Ao longo do seu mandato, Cavaco apelou, por diversas vezes a um consenso entre os maiores partidos portugueses: PS e PSD. Antes com Seguro, agora com Costa, será esta uma tecla onde Cavaco insistirá em carregar? Ficará isto dependente – e só em caso de derrota eleitoral do PS – de uma possível demissão de Costa?

Mas imaginemos que o PS ganha sem maioria: Aceitará Passos formar um Governo liderado por Costa? Será a coligação PS/ CDS equacionada?

A sê-lo, certamente causará menos estranheza ao lado de Portas que aos socialistas, no entanto, poderia significar o continuar do CDS no poder, embora deixasse a liderança de Portas muito mal vista em termos de legitimidade e ética.

Outro cenário – e ao qual o BE e o LIVRE já apelaram - é a coligação massiva dos partidos de esquerda mais votados: PS, CDU e BE e isso será, certamente, quanto baste para formar uma maioria no Parlamento. Esta coligação à esquerda pode dar-se, e em função das percentagens de voto dos três, podem surgir coligações mais redutoras entre PS e CDU ou PS e BE ou até o aparecer do LIVRE ou do PDR na equação.

Costa já disse - ao Observador – que preferiria acordos pontuais a coligações, mas os resultados de hoje podem alterar a posição do Secretário Geral socialista.

Se a coligação não vencer, parecerá óbvia a todos a saída de Passos Coelho – no entanto, o líder do PSD já deu mostras, de que se perdesse por poucos votos, não se sentiria obrigado a largar a liderança do PSD, pelo menos não antes da discussão do orçamento e das presidenciais - já não tão óbvia será a demissão de Portas, mas e se a derrota cair no PS: Costa sai ou Costa fica?

Muitas vozes são contra esta lógica de quem perde sai - António Vitorino já o defendeu na SIC Notícias apesar de reconhecer que podem existir circunstâncias complicadas – mas, e depois do episódio da sucessão de José António Seguro (venceu as Europeias com 3,7% de diferença para a coligação), tudo será uma questão de legitimidade e de como os “seguristas” reagirão a aos possíveis resultados menos positivos do PS.

Se Costa, perante uma derrota, decidir sair, levantam-se outras questões mais urgentes e que atirarão – pelo menos para o PS – a questão governamental para segundo plano: quem sucede?