15 Julho 2015      11:48

Está aqui

LÁ VAMOS NÓS OUTRA VEZ

De acordo com o Banco de Portugal, no ano 2000 o endividamento dos particulares em percentagem do rendimento disponível era de 88,2%.

No ano anterior tinha nascido a moeda única. Desde o espetro da entrada do euro que tinha havido uma queda acentuada das taxas de juro, facto que por si só é um estímulo ao consumo. Isso provocou uma banalização dos cartões de crédito, do crédito ao consumo e de promoções e publicidade selvagens a todo e qualquer tipo de produtos ou serviços, de viagens a au­tomóveis, passando até pela antecipação de recebimento do IRS. Com tudo isto, o endividamento subiu… subiu… subiu… andou acima dos 125% entre 2007 e 2013 para atenuar até aos 119% no ano passado.

No meio disto tudo, aconteceu tudo o que sabemos: crise, desemprego, corte nos salários, descida das prestações sociais e as mil e uma coisas que se seguiram à entrada da Troika em Portugal.

Em dificuldades, os incumprimentos dos portugueses aumentaram: o incumprimento do crédito à habitação, na ordem de 1% no ano 2000, apresentava em 2009 uma taxa de 1,7% e alcançou em 2014 uma taxa de 4,9%. O crédito ao consumo em 2000 tinha uma taxa de incumprimento de 3,6%, em 2009 de 7,3% e em 2014 de 14,4%.

De certo modo, os portugueses ajustaram os seus níveis de vida, obrigados pela própria crise e pelos esforços que os obrigaram a fazer. Mas essa é a palavra certa: obrigados.

Como economista, gostaria que este padrão se alterasse, que as pessoas fossem mais racionais nos pedidos de crédito. Mas como conhecedor da realidade portuguesa, confesso que sempre afirmei que assim que houvesse uma folga, achava que o padrão se invertia.

A verdade é que nos últimos meses os novos montantes pedidos de crédito ao consumo aumentaram. E mais: voltaram a níveis de 2010. Ou seja, todos os meses os bancos têm concedido novos empréstimos ao consumo em montantes superiores a 200 milhões de euros, principalmente alimentados pelas vendas de automóveis que dispararam em relação ao ano de 2014. O mercado de trabalho melhorou um pouco, a inflação está baixa (o que faz com que as taxas de juro também sejam mais baixas do que em períodos anteriores), houve algum alívio nos cortes dos últimos anos, o que significa “mais dinheiro em caixa”.

Há uma expressão portuguesa muito esclarecedora que diz “chapa ganha, chapa gasta”. Muita gente está disposta a inventar uma nova expressão: “chapa antes de ganha já está gasta”…