Existem situações que pelo seu lado mais caricato acabam por ser tão originais que nos marcam de modo a as recordamos por largos anos, sempre com um sorriso nos lábios.
Uma delas pode servir para introduzir a minha crónica de hoje.
Há alguns anos fui abordado por um pequeno produtor de vinhos que irrompeu pelo meu escritório carregando algumas caixas do seu vinho tinto. Queria “apoios” para exportar, ou na sua mais simples e pura ingenuidade, que eu lhe fizesse chegar aquelas caixas de vinho ao Brasil. A quem? Não sabia. Como? Também não sabia.
O senhor tinha legitimas pretensões em exportar o seu vinho e dar os primeiros passos no seu processo de internacionalização. Porque? Porque “cá na terra” o seu vinho já era reconhecido, porque estava cansado de “ouvir dizer” que o mercado Brasileiro pagava bem por bom vinho Português e porque tinha grande parte da sua produção de alguns milhares de garrafas em armazém, à espera de serem comercializadas.
A sua ideia não estava errada de todo, até porque nunca me cansarei de enaltecer o muito que os nossos pequenos produtores e empresários fazem. Quase sempre são pessoas sem formação a nível de Economia ou Gestão e não obstante, fazem um planeamento e uma gestão muito eficaz de forma quase intuitiva.
No entanto, após uma breve conversa onde debatemos a logística do envio dos vinhos, as taxas alfandegárias envolvidas, a necessidade de encontrar clientes ou distribuidores no mercado, e alguns outros pontos essenciais ao tema, o senhor acabou por reconhecer que não era ainda a altura.
Soube mais tarde que frequentou uma formação destinada a empresários justamente para se preparar melhor para esta aventura. Faço votos para que o esteja a conseguir.
Com este episódio pretendo desmistificar a ideia de internacionalização, uma vez que é vista como um verdadeiro “el dorado” para muitos empresários.
A internacionalização não é fácil…mas também não é nenhum “bicho de sete cabeças”!
Implica logo à partida dois recursos fundamentais: tempo e dinheiro. Ironicamente, são os mesmos que porventura os nossos empresários mais pedem. Mas esta é uma verdade de La Palice. Sem despender algum tempo e dinheiro, não vai conseguir ter sucesso nas suas exportações.
Mas atenção que os apoios comunitários podem ser um apoio fundamental para uma melhor utilização destes recursos. Existem instrumentos de apoio no Portugal 2020 que permitem ao empresário aproveitar o “tempo de um consultor” que o pode ajudar na definição da melhor estratégia e no conhecimento de um ou outro mercado. Para além de que o empresário pode também ser apoiado financeiramente, podendo ir a feiras, fazer prospeção de mercados e promover internacionalmente a sua marca, com um apoio que chega a 45% das suas despesas elegíveis.
Como se pode então constatar, os apoios comunitários podem ajudar nesses dois pontos. Obviamente que tal não chega. Não é assim tão fácil! É preciso, por exemplo, ter alguns conhecimentos a nível de línguas. Não é de todo recomendável que alguém se aventure a ir para um quaisquer pais estrangeiro e tentar fazer negócios sem dominar minimamente o Inglês. Nem no caso do Brasil, onde a língua poderia não ser uma barreira, grande parte das reuniões de negócios são realizadas em Inglês. Existem tantas diferenças nas línguas que o entendimento se torna mais fácil assim.
À parte da língua, existe uma quantidade gigantesca de aspetos empresariais, culturais e do próprio relacionamento pessoal que é preciso conhecer e preparar. Saber que existem países onde a pontualidade é levada bem mais a sério ou outros ainda em que toda a gente lhe acena a cabeça e diz que sim, que é para a semana, mas na prática isso não quer dizer nada. Países onde uma garrafa de vinho com uma excelente imagem não lhes diz rigorosamente nada, pois só pretendem um bag-in-box para beber em casa…entre tantos outros exemplos.
Resumindo, abraçar a internacionalização não será tarefa fácil…mas aceitando as suas dificuldades e preparando-se antecipadamente para contorná-las qualquer um poderá aventurar-se!
Aproveitem os apoios que estão em vigor, preparem-se muito bem antes de dar esse passo para que quando chegar O momento seja um passo firme, seguro e que vos possa trazer mais-valias. Xeque-Mate!
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