14 Novembro 2015      11:06

Está aqui

"ENSEMBLE"

Nós estamos vivos. Outros como nós, ontem perderam as suas vidas às mãos de cobardes fanáticos.

Este é mais um texto que desejava não escrever.

Por muito que aconteça hoje, por muito mais exigentes que queiramos ser hoje, por mais coerentes que queiramos ser hoje, é inevitável o sentimento de derrota que nos assola.

O terrorismo voltou a aparecer. E voltou será mera formalidade verbal. O terrorismo está entre nós – não, não veio com os refugiados sírios – e ontem voltou a mostrar do que é capaz.

Ontem, foi mais um dia triste a juntar a 11 de setembro (Nova Iorque) e a 11 de março (Madrid). O 13 de novembro não representou um ataque em larga escala como os dois anteriores, o número de vítimas foi menor, mas representa também algo mais assustador e este foi o objetivo dos terroristas: mostrar que podem aparecer em qualquer lugar, a qualquer hora e abanar a segurança, a Liberdade e os regimes democráticos ocidentais. Querem provocar o medo, querem mudar o que somos e como somos.

Uma vez mais, como no ataque ao “Charlie Ebdo” – onde o simbolismo do ataque foi superior à sua magnitude – este ataque a civis nas ruas de Paris, nos cafés de Paris, nos acontecimentos habituais e vulgares do dia a dia das nossas sociedades representa a oposição aos nossos valores sociais, políticos e humanos, à nossa tolerância e não podemos responder do mesmo modo -já ontem houve relatos de incêndios no campo de refugiados sírios em Calais – norte de França.

Não se pode reagir a violência com mais violência. Mas também não se pode continuar impune à existência de um problema que pode perigar a vida e os regimes como os conhecemos.

Se o “modus operandi” selvático e propagandista do autodenominado Estado Islâmico nos chocava enquanto violavam e matavam homens, mulheres e crianças na Síria, no Iraque e noutros locais, - quer sendo queimados, com explosivos, afogados, decapitados e outras tantas formas quanto mais chocantes melhor, e por muito que se valorizem as ruínas de Palmira e outras tantas preciosidades históricas e arqueológicas a destruição destes ícones é irrelevante face à vida – agora, e uma vez mais, à nossa porta, é que nos apercebemos novamente que esperar que passe não funciona, temos que agir; mas agir não é reagir.

Não podemos responder na mesma moeda, não podemos entrar na escalada de violência, extremismo e intolerância que estes núcleos residuais - que se julgam o espelho do islão - demonstram. A violência não está nas religiões, está em alguns Homens que as professam, está em alguns Homens que as usam. Porque ser islâmico, muçulmano ou qualquer outra coisa, não significa ser terrorista.

Mas temos que fazer alguma coisa, como por exemplo o que se presume serviu de base a esta reação dos cobardes que ontem mataram inocentes – a intervenção na Síria e a exterminação de células terroristas na Europa.

Não há dúvida, estamos em guerra, e não é de agora; mas esta guerra é de todos, esta é uma guerra contra o terrorismo e tudo o que não respeita o Ser Humano ante qualquer crença, ante qualquer religião, ante qualquer fanatismo e todo, e cada um de nós, pode e vai ter que combater.

Ontem terão sido cerca de 130 as vidas perdidas, num ato que François Hollande – presidente francês – considera “Um ato de barbárie absoluta” e ao qual o editorial de Laurent Joffrin – no “Libération “reage do seguinte modo: “A sociedade francesa deve armar-se de coragem para não ceder aos assassinos, para exercer a sua vigilância e vontade inabalável para enfrentar o horror, apoiando-se nos seus princípios de direito e de solidariedade (…) É impossível não ligar estes acontecimentos sangrentos aos combates em curso no Médio Oriente. A França desempenha lá um papel e deve continuar a sua ação sem pestanejar”

E nós também. Como disse Obama, “este é um ataque a toda a humanidade”. Esta guerra será ganha se hoje vivermos do mesmo modo que ontem e se amanhã os valores da “Fraternité, Egalité e Liberté” continuarem bem vivos entre nós.

Como disse Dumas num clássico da literatura francesa: "Um por todos e todos por um." 

 

Luís Carapinha - diretor