20 Outubro 2015      16:08

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ECONOMIA DA COMPENSAÇÃO

Quem estiver à espera de ler sobre ótimos de Pareto, sobre ganhos, perdas e como compensa-las, com muita economia por aí fora, pode parar já!

A minha crónica de hoje revela uma economia despida de termos técnicos. Mostra a economia do nosso dia-a-dia, aquela que está tão à frente dos nossos olhos que nem a reconhecemos como tal.

E escrevo-a sentado no aeroporto, aguardando pacientemente pelo meu voo e observando uma joalharia extraordinariamente reluzente, daquelas com preços estupidamente elevados. Sempre me interroguei sobre a necessidade de existirem este tipo de lojas em aeroportos, até que um dia me falaram numa certa teoria. Os homens de negócios ao regressarem das suas supostas “viagens de negócios” encontravam nestes sítios o escape perfeito para se livrarem do peso extra na consciência e compravam o miminho mais brilhante para as suas adoradas esposas. Uma teoria como outra qualquer é certo, mas que teve ao menos o condão de me deixar a pensar. Seriam então problemas da consciência humana a justificação para a presença física destas lojas em locais estratégicos? Apenas para compensar uma atitude menos boa. Seria?

É facto que vivemos a mil à hora. Mesmo no nosso Alentejo sobejamente conhecido pela sua pacatez, tranquilidade e “vagar”! Produzimos, consumimos, dormimos e acordamos no dia seguinte para repetir o ciclo.

Vivemos também num tempo em que direta ou indiretamente atribuímos valor a tudo. A nossa decisão ao comprar um presente depende muito do que sentimos por essa pessoa. Quanto mais afinidade, apreço ou maior necessidade de impressionar, maior será o montante que estamos dispostos a despender.

As exigências são cada vez maiores. Exigências familiares, pessoais, profissionais, sociais…e não conseguimos chegar a todo o lado, a toda a gente.

O que fazemos então? Compensamos. Ou tentamos compensar!

Compramos um brinquedo ao nosso filho para compensar a nossa ausência por trabalho.

Compramos flores para a nossa mulher se o jogo de futebol que vimos no café se prolongou por mais do que devia e queremos compensar o nosso atraso.

Pagamos uma bebida ao nosso amigo a quem nunca ligamos e nos esquecemos de perguntar como vai.

Compramos um fato caro para compensar alguma falta de confiança ou um carro impressionante para compensar alguma falta de capacidade de sedução.

E de onde vem esta necessidade de compensação? Porque é que nos sentimos forçados a compensar tanta e tanta coisa? Será da nossa sociedade? Excessivamente consumista, materialista? Que desvaloriza ações em detrimento das “coisas”? Talvez…

Porque é que não podemos só dar um beijo de boa noite ao nosso filho, aconchega-lo e dizer-lhe que tentaremos estar mais tempo juntos no dia seguinte?

Porque é que não podemos simplesmente pedir desculpa pelo atraso enquanto dizemos olhos nos olhos que amamos a nossa esposa?

Porque é que não podemos ser nós próprios, com qualidades que por si próprias compensam aquilo em que somos menos bons?

Porque é que achamos que é preciso comprar e consumir para compensar seja o que for?

Será da economia da compensação? Pensem vocês também nisto…

Na última semana, quantas compras foram feitas com o intuito de compensar algo que fizeram ou que não fizeram de todo?