5 Maio 2015      16:23

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DESPOVOAMENTO

O futuro do Alentejo está em risco e tudo isto se deve a uma grande hemorragia migratória que tem desertificado a região.

O fenómeno não é novo e dura desde de 1950.

Os anos de desenvolvimento europeu foram traumatizantes para as regiões europeias do Sul, como o Alentejo (distritos de Portalegre, Évora e Beja) e a Extremadura espanhola.

As boas perspetivas económico-laborais vindas do Centro da Europa e das zonas mais industrializadas e desenvolvidas de Portugal e Espanha têm sido o alvo preferencial da emigração destas zonas do interior.

A Extremadura espanhola, entre 1951 e 1975 perdeu 671.000 habitantes, cerca de 48% da sua população, e o Alentejo 44%, ou seja, cerca de 308.000 pessoas, na sua maioria jovens com capacidade de trabalho e de se reproduzir.

Assim, e só até 1975, estas duas regiões raianas perderam um magnífico capital humano e hipotecaram grande parte do seu futuro, pois o avanço do índice de envelhecimento é devastador.

As consequências arrastaram-se e o regresso destas massas jovens não passou de utopia, tendo agravado ainda mais o índice de envelhecimento.

Para quem partiu, essa migração teve reflexos na melhoria da qualidade de vida e no aumento de recursos e garantias de um melhor futuro.

No ranking dos PIB (Produto Interno Bruto), e antes de começarem as migrações massivas, por volta de 1950, o Alentejo ocupava o 97º lugar e a Extremadura o 107º.

Em 1973, a crise mundial acabou com os fluxos migratórios massivos, mas em 1977 a Extremadura espanhola era 102º - no ranking acima referido – e o Alentejo já baixara para 104ºde acordo com os dados da Basic Statistics of the Commumity, da União Europeia.

Se no caso estremenho a migração estancou, no caso alentejano foi pior, pois não parou até aos dias de hoje e agravou-se com a crise de 2008.

Em 1981, viviam no Alentejo 505.000 pessoas, de um total de 9.850.000 de habitantes em Portugal. Antes da massificação migratória, no Alentejo viviam 700.000 habitantes dos 8.450.000 nacionais.

Atualmente, quer Portugal, quer a Espanha, viram aumentar o seu número de habitantes, cerca 10.500.000 em Portugal, no entanto, a população do Alentejo baixou para 395.000 residentes, segundo fontes do INE de Espanha e Portugal.

Pode dizer-se que a segunda metade do séc. XX, sobretudo nos anos 60, foi uma sangria migratória, no caso espanhol; já no caso português, o alentejano, foi uma autêntica hemorragia ainda por controlar.

O futuro é difícil em ambas regiões, mas no Alentejo, esta situação pode mesmo vir a ser fatal pois a densidade populacional é alarmantemente baixa: 16,68 habitantes por quilómetro quadrado – quase sete vezes menor que a média nacional.

O artigo original é de Moisés Cayetano Rosado, Doutorado em Geografia e História,  “LA SANGRÍA DE EXTREMADURA Y LA HEMORRAGIA DE ALENTEJO” (“A sangria da Extremadura e a Hemorragia do Alentejo”) e pode ser lido aqui.

Imagem de capa daqui.