10 Julho 2015      12:32

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CONTADEIRAS DE HISTÓRIAS MADE IN ALENTEJO

Chama-se Sofia Paulino e é a criadora da Contadeiras de Histórias, uma marca registada que dá vida a pequenas bonecas feitas à mão, que representam diversas cenas extraídas da literatura. Uma ideia nascida em Castro Verde mas que promete cativar o mundo com bonitas palavras portuguesas. Conheça mais em https://www.facebook.com/contadeirasdehistorias?fref=ts

 

Tribuna Alentejo: Como surgiu a ideia de criar as Contadeiras de Histórias?

Sofia Paulino: A ideia de criar esteve sempre em mim. A experiência de dez anos como livreira, criou o ambiente propício para o nascimento das Contadeiras. E elas ganharam uma identidade própria, são autênticas e diferenciadoras, desliguei-me do mundo exterior para que elas fossem únicas e sem medo de se expressarem e transmitirem frases, pensamentos e histórias, jogos de palavras que fizessem da simplicidade da mensagem em paralelo com a simplicidade das peças um elo com a complexidade da interpretação de cada um.

 

Tribuna Alentejo: Que histórias nos contam estas Contadeiras? No que se baseia para criar estas peças?

Sofia Paulino: As Contadeiras contam muitas histórias. Muitas baseiam-se em títulos de livros e no seu teor, posso dar o exemplo da peça Arco Singular, que é o título de um livro de uma das minhas autoras de eleição, Maria Gabriela Llansol. Posso escolher, ou até mesmo estes surgirem de coincidências, alguns excertos de narrativas. Outro exemplo será, a série “Novo Romance”, que se baseia nas últimas linhas do livro “Hotel Lusitano”, de Rui Zink. Outra das bases são próprias do imaginário comum, posso ilustrar com a primeira exposição que fiz “Há monstros debaixo da cama”, que aloja toda a espécie de medos e “crendices” que povoam o imaginário infantil. E por estranho que pareça, o “nada” também é grande fonte de imaginação, porque do nada se faz tudo, e para que isso aconteça temos de nos livrar de preconceitos e ser livres mentalmente e deixar fluir.

 

Tribuna Alentejo: Se lhe pedissemos para escolher uma peça, qual escolheria?

Sofia Paulino: É difícil, porque eu tenho uma relação estranha com as minhas peças, quando estou a fazê-las apaixono-me fortemente por elas, quando chego ao fim, começo a ser uma crítica menos positiva. E passado uns dias, volta a valorização do que fiz. E por vezes gostava de ficar com todas elas, como se criassem um mundo pequenino junto a mim.

 

Tribuna Alentejo: A Sofia sempre viveu em Castro Verde?

Sofia Paulino: Vivo em Castro Verde há cerca de 5 anos. Sou natural do Alentejo, sim, mas de Reguengos de Monsaraz. O “ir estudar para fora”, que é o caminho que leva os jovens a fixar residência noutros locais, foi o mesmo que eu percorri. Estudei em Beja, e criei o meu local de trabalho em Castro Verde.

 

Tribuna Alentejo: Qual é a sua relação com os livros ou com a literatura? É uma pessoa que lê muito? Que género de livros lê?

Sofia Paulino: A minha relação é pessoal e profissional. Em 2004, eu e o meu marido abrimos uma Livraria em Castro Verde, projeto que decorreu durante 10 anos, e que encerrou a 31 de Dezembro do passado ano. E nos últimos dois anos, também desenvolvemos outro projeto relacionado com livros, uma editora que está no ativo e com lançamentos planeados até ao final do ano. Se sou uma pessoa que lê muito? Sim, mas gostava de ler ainda mais. Não passo um dia sem pelo menos ler umas páginas de um livro. E leio todo o tipo de livros, mas a literatura é a que mais impera, gosto imenso de autores contemporâneos, como Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, Saramago, Maria Gabriela Llansol que já referi, entre outros, e clássicos como Flaubert, Eça de Queirós, Italo Calvino e muitos outros que levaria aqui uma infinidade de tempo a descrever.

 

Tribuna Alentejo: Fale-nos um pouco do processo criativo das Contadeiras de Histórias.

Sofia Paulino: As Contadeiras, além das bases da literatura, têm também como elemento inspirador uma outra vertente: os materiais. Sendo que as Contadeiras são feitas de reaproveitamento de materiais, ou seja “lixo”. O facto de juntar os materiais, faz com que a criatividade entre em vigor e crie formas de aproveitamento e juntamente com a parte literária, faz-se o “boom” e a obra nasce… A literatura infantil e a ilustração também têm uma forte influência, nas pequenas Contadeiras. Por vezes, na mesa de trabalho parece amontoar-se um monte de tralha, e bem no meio surge a peça. A simplicidade das Contadeiras nasce do caos e da desarrumação.

 

Tribuna Alentejo: Quem são os principais clientes? Nota que há um público específico para estas peças?

Sofia Paulino: Os principais clientes? É difícil de identificar. Mas sim, há um público específico para as peças. No entanto, o facto de elas serem muito diversas, leva a que possam atingir públicos diferentes. As pessoas que apenas se interessam pelo objeto gostam das peças individuais, como sendo meramente decorativas. Aquelas a quem o conceito lhes suscita interesse, gostam de peças menos óbvias e com as quais identificam os seus próprios gostos literários. E muitas até procuram nas Contadeiras um instrumento de trabalho, tornando as peças elementos de histórias ou pegando na própria história das Contadeiras (que pode ler-se na página de facebook) e dinamizando-a.

 

Tribuna Alentejo: Onde podemos comprar? Vende online, tem presença em lojas, livrarias...

Sofia Paulino: As Contadeiras já marcam presença em lojas. Neste momento apenas em nove, mas com algumas outras já em contacto. Os espaços são lojas de artigos de artesanato de autor ou urbano, como agora é costume denominar, como a Mãos à Arte em Leça da Palmeira ou a Maria Colorida no Algarve, mas na sua maioria são livrarias, espaços que casam muito bem com as peças pela temática que estas abordam, como a Leituria, na Estefânia, a Letraria e a Gatafunho em Oeiras, a Gigões e Anantes em Aveiro e aqui no Alentejo, a Vemos, Ouvimos e Lemos, em Serpa. Podem ser adquiridas também nas feiras de artesanato, ou em certames específicos como a FIA, ou certames relacionados com livros, como as Palavras Andarilhas em Beja ou como foi o caso em Montemor, na Festa dos Contos. Online também poderão ser adquiridas na página da Papelaria Inédita e muito brevemente na aBOUT aLENTEJO, e claro, diretamente na página de facebook das Contadeiras. Assim como no posto de turismo de Castro Verde, que é um ponto de referência na divulgação do artesanato local.

 

Tribuna Alentejo: O que espera para as Contadeiras de Histórias a médio longo prazo? Há outros produtos que pensa desenvolver?

Sofia Paulino: Quando me perguntam o que são as Contadeiras, não gosto de as descrever como artesanato, porque na minha opinião, elas são um conceito com muito mais abrangência. As Contadeiras têm uma história por trás, uma história que está à espera de ilustração (para a qual preciso de tempo para a fazer, se o meu filho de dois anos me deixar), para posteriormente dar origens a uma publicação. Assim como outras histórias que estão à espera do mesmo fim. Iniciei também, através do contacto com livrarias, bibliotecas e escolas, ateliers que podem ter as mais diversas temáticas, adequando ao programa e às idades do público, que pode passar por contar histórias, assim como a “feituria” de peças. As exposições conceptuais, também farão sempre parte do conjunto de coisas que quero desenvolver. Neste momento tenho uma exposição que iniciou em Serpa, com o tema “Amor em tempos de cante”, que já passou por Castro Verde e que segue para a Leituria em Lisboa, para Ourique e para Cuba. E felizmente, ideias não faltam…

 

TA: Que desejos tem para as Contadeiras de Histórias? Até onde gostava que elas fossem?

Sofia Paulino: Desejo que elas possam crescer dentro das várias vertentes que acredito que elas têm. E que as pessoas possam acreditar nelas e divertir-se com elas, como simples peças que são. Gostaria que se materializassem nos projetos que referi, na ilustração e nos livros. E gostaria que as pessoas as vissem, não só como peças de artesanato, mas como um conceito, como exemplo de respeito pelo ambiente, como estimuladoras do gosto pela leitura, como uma história que não precisa de moral.