3 Maio 2015      13:39

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AFICIÓN… E OLÉ!

Gosto de touradas! Perdoem-me e respeitem-me todos os que não gostam, tal como eu vos respeito a vós por tudo aquilo que possam gostar e que eu poderei não gostar.

Na semana passada, devido à controvérsia criada pelos humoristas Nuno Markl e Ricardo Araújo Pereira, dando a cara por uma campanha da “Animal”, resolvi escrever esta crónica. Esse assunto promoveu além de discordância, bastantes comentários fervorosos entre anti-taurinos e aficionados.

Ambas as partes não se respeitam, sendo que é aflitivo ler verdadeiras ofensas e até ameaças, de ambas as partes, confesso. Umas das coisas que mais me surpreendeu, foi o facto da maioria dos anti-taurinos considerar que todos os aficionados são burros, parvinhos, betinhos e ignorantes do campo. Lamento dizer que tal não corresponde à verdade, todos somos diferentes e os aficionados são um grupo de pessoas de diversos estratos etários, de diferentes formações e com opiniões muito próprias, que têm em comum a vivência da festa brava com emoção e respeito. A isto equivaleria a dizer que todos os adeptos do clube “x” são estas mesmas coisas apenas por serem deste clube. Mas como se sabe, gente insensata há em todos os sítios!

Mais, fica também subjacente em muitas das coisas que li que “todos” os aficionados não gostam de animais e que inclusivamente os mal tratam! É de todo surpreendente ler este tipo de coisas, pois desde quando é que isso acontece? Eu sou aficionada e sempre tive animais de estimação, os quais tratei e trato da melhor forma: Isto significará que todos os anti-taurinos tem animais domésticos (muitos) e não comem qualquer tipo de carne? Creio que não somos tão ingénuos quanto isso, e cada um faz as suas opções alimentícias, tal como cada um tem (ainda) o direito de gostar do que gosta, sem ser recriminado, ou sem ter um dedo apontado, sendo que muitas vezes há acusações sem conhecimento directo de causa.

Vejo este assunto da tauromaquia como pouco prioritário nos dias que correm, pois numa altura de crise em que há pessoas com fome, elevadíssimos números de violência doméstica, existem milhares de pessoas a morrer nas águas do mediterrâneo, o que se vive na Síria é um verdadeiro descalabro e mais, aceita-se na nossa sociedade a interrupção voluntária da gravidez, entre outras tantas preocupações que não vou enumerar. Não consideram vós leitores estes assuntos prioritários?? Ou não haverá aqui algum contra-senso?? Andamos a discutir uma tradição cultural - tauromaquia, sobre a qual cada um tem a sua opinião e é livre de ir ou não, em detrimento daquilo que afecta as nossas vidas directamente?

Eu considero e comparo o gostar ou não de tauromaquia com a aceitação de religiões diferentes, com o pertencer a determinado partido político ou mesmo o ser do clube “x” ou “y”. A mim, por exemplo, revolta-me de certa forma os ordenados milionários dos jogadores de futebol, revolta-me ainda a dívida às finanças da maioria dos clubes, que vivem à nossa conta, nós contribuintes e garanto que nunca ninguém me viu à porta de um estádio e fazer uma manifestação por haver milhares de pessoas com fome e os jogadores ganharem balúrdios. Se não gosto, se não me dá conforto, não pagarei e não irei!

Ser aficionado é algo que provém da nossa educação, dos nossos valores, da forma como encaramos a vida. Não consigo exactamente explicar o que é ser aficionado, porque é algo que se sente e não se explica. Desde que sou gente que frequento arenas com diversos familiares e partir de determinada altura com amigos. Tenho muitos amigos aficionados com quem partilho fabulosos momentos tauromáquicos, tal como tenho muitos amigos que não gostam de tauromaquia e que não me acompanham nestes momentos. O respeito e a aceitação é a chave destas amizades, tal como acontece com preferências clubísticas, partidárias, religiosas, etc.

No entanto, gostaria ainda de vos colocar um ponto de vista muito pessoal. Para mim, numa corrida de toiros, é o toiro o elemento central, tudo gira em volta do toiro, sendo este o centro das atenções, é a este que todos os elementos da festa brava devem o maior respeito. Um animal nobre que foi criado em condições de excelência para este efeito. Sem tauromaquia não existiria toiro bravo, pois este animal tão poderoso vive durante quatro anos, em liberdade, com as condições que nenhum outro animal possivelmente terá, para um dia ser lidado numa corrida de toiros. É esta a tradição! Quem conhece estas condições entenderá certamente as minhas palavras, para os restantes não consigo colocar-vos o meu ponto de vista de outra forma.

Foi apenas uma reflexão com o propósito de desmistificar algumas ideias feitas que por aí circulam, não pretendendo com isto “impingir” nada a ninguém, muito menos opções e gostos pessoais.

Quanto à posição dos humoristas que referi acima, respeito-a, tal como respeito a dos demais, apenas discordo da forma como padronizam os aficionados e os ridicularizam, sendo que não será esta ocasião que perturbará a opinião que tenho de ambos. Todas as minhas crónicas têm sido muito pessoais, com exposição de momentos e vivências únicas, que tive o máximo prazer em partilhar com todos vós! Esta crónica revela apenas o meu ponto de vista e a minha interpretação de algo que estimo, vivencio e sinto! Respeito!

E Olé!