25 Abril 2015      10:18

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41 ANOS DEPOIS

A revolução aconteceu 48 anos depois do início da ditadura do Estado Novo.

Foi a mais longa da Europa.

Hoje, 41 anos depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, e poucos meses depois da saída da Troika de Portugal, os portugueses relembram a revolução de muitas maneiras.

O Movimento das Forças Armadas (MFA), grandemente composto por capitães que tinham tido participação na Guerra Colonial e apoiados por muitos outros soldados milicianos, começaram a planear a revolução uns anos antes.

A primeira reunião de capitães terá sido em África, em Bissau na Guiné, e a segunda no Monte do Sobral, nas Alcáçovas, distrito de Évora, a 9 de novembro de 1973.

A última e definitiva reunião antes da revolução ocorreu a 24 de março de 1974.

Em Lisboa, no quartel da Pontinha, Otelo Saraiva de Carvalho instalou um posto de comando secreto e às 22:55h, a música de Paulo de Carvalho “E depois do adeus” serviu de mote ao início da revolução e à preparação das forças revolucionárias, muitas que partiram rumo à capital. Às 00:20h, “Grândola Vila Morena”, a canção que Zeca Afonso escreveu para homenagear o cante, passou na Rádio Renascença, foi a segunda senha e significava “tropas em movimento”. Tinha sido uma canção banida pelo “lápis azul” da censura e era já o primeiro gesto da revolução.

Na madrugada de 24 para 25 de abril, estas forças marcharam para Lisboa com um reduzido poderio militar, mas empurrados por esperança num Portugal livre e democrático e por um forte apoio popular logo que a população da capital percebeu o que se estava a passar.

Foi nesta madrugada que o capitão Salgueiro Maia, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém proferiu as célebres palavras: "Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui."
 

Veja aqui a parte correspondente do filme “Capitães de Abril”, realizado por Maria de Medeiros, em 2000.

A missão da Escola Prática de Cavalaria de Santarém era uma das mais complicadas: ocupar o Terreiro o Paço!

A revolução ganhou o nome de revolução dos cravos devido à alegria do povo que exaltava com as movimentações das tropas pelas ruas de Lisboa; as floristas começaram a distribuir por todos cravos brancos e vermelhos, pessoas saíam de casa com presuntos e compartilhavam com as tropas, as crianças alinhavam lado a lado com os militares, num raro clima de fraternidade entre o povo português.

Salgueiro Maia, apanhado numa foto a morder o lábio, foi questionado pelo porquê dessa reação; respondeu que o fazia para não chorar, pois naquele momento já sentiam que a revolução não iria parar.

No entanto, houve momentos de grande tensão, essencialmente no Terreiro do Paço e no Largo do Carmo.

"A marcha para o Carmo foi extraordinária pelo apoio popular que agregou, que contribuiu bastante para que o Carmo perdesse a vontade de resistir. Nunca tinha visto o povo a manifestar-se assim. No Carmo, ao chegar houve desde senhoras a abrir portas e janelas até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. O ambiente que lá se viveu foi de tal maneira belo que depois dele nada mais digno pode acontecer na vida de uma pessoa."

Registaram-se 4 baixas civis e 45 feridos, em Lisboa, perto da sede da PIDE – DGS, a polícia do regime.

Portugal estava isolado do mundo; “orgulhosamente só”, e numa guerra sem fim. É seguro afirmar-se, que não fosse a revolta dos oficiais de patente mais baixa, e provavelmente teríamos tido ditadura por mais uns anos, e nesta revolta a Guerra Colonial foi o detonador que levou à revolução pela Liberdade e que devolveu a esperança ao povo.

O pós-revolução não foi pacífico. O Processo Revolucionário em Curso (PREC) atirou com o país para as portas de uma guerra civil. A luta entre a extrema-esquerda e a social-democracia levou a um clima de pré-guerra civil que culminou no golpe militar de 25 de novembro de 1975, após o “verão quente” pelas disputas entre as forças radicais e as forças moderadas, pela ocupação do poder do Conselho da Revolução.

 

O 25 de Abril foi feito por muita gente e teve muitos significados; foi e é um processo de construção, redefiniu-se no 25 de Novembro, e continua nos dias de hoje.

O 25 de Abril trouxe-nos a liberdade e a democracia, mas também nos trouxe uma melhoria generalizada nas condições de vida:

• Esperança de vida das mulheres: 70,8 anos (1970) 80,6 anos (2002)

• Taxa de mortalidade infantil: (permilagem) 37,9% (1974) 5,0% (2002)

• Taxa de mortalidade materna: (por 100 mil nados vivos) 73,4% (1970) - 2,5% (2000)

• Partos em estabelecimentos de saúde: 37,5% (1970) 99,5% (2000)

• Taxa de atividade feminina: 19% (1974) 46% (2003) • Feminização do ensino superior: 44,4% (1970-71) 56,0% (2001)

• Taxa de cobertura: – água canalizada: 47,0% das casas (1970) 97,4% das casas (2001) – esgotos: 58,0% (1970) 96,7% (2001) – eletricidade: 63,0% (1970) 99,6% (2001).

• Analfabetismo: 33,6% (1970) 9,0% (2001), dos quais 11,5% mulheres, 6,3% homens.

 

Todavia o Futuro é feito do passado e o ponto de partida do Estado Novo foi a miséria total e absoluta deixada pela I República, a qual também recebeu uma herança pesada.

Em 1910, a taxa de analfabetismo que rondava os 76,1, enquanto os países escandinavos – tantas vezes tidos como modelos para nós – eram, já em 1900, inferiores a 30%.

Mesmo se comparamos com Espanha, um país com semelhanças culturais connosco, tinha uma das piores taxas da Europa Católica, ainda assim, abaixo da portuguesa: 56%.

Neste contexto e até ao golpe militar de 28 de Maio de 1926, em 16 anos houve sete parlamentos, oito presidentes da República, 39 governos, 40 chefias de governo (um presidente do Governo Provisório e 38 presidentes do Ministério).

Durante este período conturbado ainda passámos por uma primeira Guerra Mundial. Assim, bem analisados os factos, a ditadura terminou com uma taxa de analfabetismo de 26%, mas no ponto de partida, era de 70%.

A mortalidade infantil era por exemplo 4 vezes superior à da Holanda e da Suécia, mas no ponto de partida era 14 vezes superior.

Durante o Estado Novo, a esperança média vida passou de 40 para 74 anos, mas no No ponto de partida, tínhamos um PIB per capita que representava 28% do PIB per capita médio da Europa mais rica. No fim do período, esse valor era de 60%, o mesmo valor dos nossos dias.

O regime, onde a figura de Salazar foi quem mais se destacou, passou quase incólume à 2ª Guerra Mundial, e em parte devido ao jogo duplo que Salazar fez quer com aliados ingleses quer, e ao mesmo tempo, com o regime Nazi.

 

Se ainda tiver tempo:

 

Pesquisa e adaptação de Luís Carapinha e Cláudio Sousa

Fotografia de capa de Eduardo Gageiro.

Fotografias do artigo de Alfredo Cunhal

Citações de: Maia, Fernando Salgueiro, Capitão de Abril, Histórias de Guerra do Ultramar e do 25 de Abril, Notícias Editorial/ Diário de Notícias, Lisboa, 1997