11 Setembro 2016      10:00

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11 DE SETEMBRO: AINDA SE VÊ O FUMO

Lembro-me perfeitamente do momento do atentado.

Era um jovem universitário a fazer zapping compulsivo na tentativa de encontrar uma desculpa para não pegar nos livros, quando – passavam uns minutos das 9:03h em Nova Iorque, 14:03h em Portugal – ao ver um pasmado José Rodrigues dos Santos, paro na RTP1 e vejo um jornalista experiente - cujas primeiras memórias me enviam para a Guerra no Golfo, estando, como tal, habituado a cenários difíceis – atónito, a tentar explicar o que estava a acontecer nas imagens que se viam em direto dos Estados Unidos.

Não passaram muitos minutos e a sua perplexidade aumenta ao vermos juntos - eu, ele e milhões de pessoas em todo o mundo - em direto, o embater de um segundo avião na outra torre do WTC; tudo sem que ninguém soubesse ainda explicar o que estava a acontecer.

Eram já 9:37h locais, e as imagens mostravam a torre norte do WTC a arder e em reptição o embate do avião do voo 175 da United Airlines com a torre sul do WTC. Os dois aviões que tinham embatido nas torres  haviam levantado de Boston e rumavam a Los Angeles.

Um outro avião, o voo 77 da American Airlines, também com rumo a Los Angeles, colidiu com as instalações do Pentágono, na Virgínia. Uma vez mais, a bordo estavam 5 sequestradores que eram parte de 58 passageiros aos que se juntavam mais 6 membros da tripulação.

Já se contam quinze anos do dia em que 11 de setembro deixou de ser só mais um dia. A 11 de setembro de 2001, o inesperado aconteceu e, em breves minutos, o mundo mudava, quer com o acontecimento que teve lugar em Nova Iorque, quer com as consequências diretas do aconteciemnto em si, quer com os usos e aproveitamentos do mesmo.

Várias megas produções de Hollywood já tinham focado guiões de filmes em mil e uma formas de atacar e destruir algo importante nos Estados Unidos: dinossauros, gorilas gigantes, extraterrestres, ameaças nucleares, intempéries massivas como tornados, tsunamis, terramotos, vulcões etc. e até ataques zombies, mas nunca pensou no mais óbvio, no mais real (quiçá por ser fácil a sua realização): um avião comercial cheio de combustível e sequestrado por terroristas islâmicos.

O 11 de setembro de 2001 traria para a realidade de todos nós nomes como Osama Bin Laden, Al-Qaeda, Wall Trade Center (WTC) e pior, uma nova realidade que desejávamos não conhecer: a ameaça terrorista à escala global que, em qualquer lugar, a qualquer momento, pode ameaçar a nossa vida e os pilares da nossa sociedade.

Um quarto avião sequestrado, o do voo 93 da United Airlines e que seguia para S. Francisco, levava sete membros da tripulação e 33 passageiros. Estas 40 pessoas, aperceberam-se do que estava a acontecer e revoltaram-se contra os 4 sequestradores a bordo, provocando que o avião se despenhasse numa floresta de Shanksville, no estado de Pensilvânia, às 10:03h locais.

No WTC, quando se deu o primeiro embate, estavam cerca de 17 400 civis segundo o NIST (Instituto Norte-americano de Estatística e Tecnologia). No conjunto dos atentados deste dia morreram 2 996 mortes, 19 deles terroristas.

Com o passar dos anos, o número de vítimas mortais com causas nestes atentados viria a aumentar devido á exposição a poeiras e inúmeros produtos cancerígenas libertados naquele dia.

As frases que se seguem são traduções transcritas de mensagens e gravações telefónicas realizadas no dia fatídico por vítimas dos atentados.  

 

 

Surgiram inúmeras teorias de conspiração sobre estes atentados e que levantavam muitos factos e dados suspeitos, essencialmente após aberta a possibilidade de serem ouvidas as gravações dem chamadas telfónicas efetuadas neste dia.

Muitos acusam o então presidente George W. Bush por ter provocado este “atentado” de modo a poder ter uma justificação plausível para invadir o Iraque e intervir no Afeganistão e Paquistão – o que veio a acontecer após a célebre cimeira nos Açores com Blair, Aznar e Durão Barroso - e combater Ossama Bin Laden e a sua organização terrorista Al-Qaeda - que haviam reivindicado os atentados.

Depois disso e de uma invasão no Iraque, dois anos depois, em 2003, e que se sabe hoje que partiu de uma suspeita de armas químicas infundada – deixando mais uma suspeita de que tudo não passou de uma guerra pelo controlo do petróleo iraquiano apoiada pelo lobby do armamento - o combate ao terrorismo tornara-se a prioridade do mundo ocidental.

Para tal, foram alteradas leis que garantiam a privacidade do cidadão como o “Patriot Act”, nos EUA, assinado logo em outubro de 2001, um mês depois do atentado.

Este “Patriot act”, entre muitas outras coisas, permitia e legalizava aos serviços de inteligência do EUA e forças de segurança intercetarem chamadas telefónicas e e-mails de organizações e pessoas supostamente envolvidas com o terrorismo, sem qualquer necessidade de autorização da Justiça, e fossem essas pessoas estrangeiras ou americanas.

Com esta lei por base, foi criada a prisão de Guantánamo e uma extensa rede de transporte ilegal de terroristas do Médio Oriente para esta prisão em Cuba e com o qual muitos países europeus terão sido coniventes. Quer lá, quer em inúmeras bases norte-americanas espalhadas pelo mundo, forma suprimidos e esquecidos direitos humanos e a tortura foi uma forma de obter informações sobre a Al-Qaeda e outros grupos terroristas.

O “Patriot act” viria a durar até a administração de Barack Obama, já em 2015, quando este não promulgou esta lei e criou o “Freedom Act” que vem limitar o trabalho das secretas americanas na recolha de informação.

Pelo meio também Edward Snowden, ex-membro da CIA, e que foi acusado de espionagem por dar a conhecer ao público informações sigilosas de segurança dos Estados Unidos e revelar detalhes dos programas de vigilância que o país usava para espionar a população norte-americana e mundial com recurso ao Google, à Apple e ao Facebook. Terão estado sob vigilância muitos outros países do mundo e muitos outros chefes de estado, criando uma grave crise diplomática aos EUA.

Parte das promessas eleitorais de Obama estavam relacionadas com o fecho de Guantánamo e a saída das tropas americanas do Médio Oriente e Ásia, algo que não se viria a mostrar tão fácil de fazer dada alguma resistência do Senado.

A influência norte-americana no mundo em inquestionável, em todos os domínios, e interferiu vezes sem conta na ascensão e queda de regimes no Médio Oriente provocando instabilidade nessa região e por vezes o surgimento de grupos terroristas como a própria Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Estabeleceu-se, entre os países árabes, europeus, asiáticos e EUA, uma rede de interesses, por vezes momentâneos, naquela região em que o difícil é saber ao certo quem apoia quem, ou onde a circunstância pode ditar uma mudança de lado. Putin e a Rússia, Israel, Turquia, União Europeia e até a China estão também estão enredados nesta teia em que ninguém parece sair a ganhar, muito menos as populações diretamente afetadas.

A primeira pergunta que me assolou, em 2001, foi “porquê?” Quais as razões para ato de tamanha violência?

Hoje, ainda se vê o fumo em Nova Iorque e certezas só uma: o mundo mudou! 

Quinze anos depois – depois de uma segunda Guerra no Golfo, inúmeras guerras e revoluções no Médio Oriente, milhares de milhões de euros gastos, depois de muitas leis que restringiram a liberdade e a privacidade dos cidadãos (por vezes fazendo lembrar o mítico “1984” de George Orwell) depois de Madrid, Londres, Paris, Bruxelas, Síria e uma lista infindável de sítios espalhados por todos os continentes do globo, depois de milhares de mortes de inocentes – Quais as razões para isto? Está o mundo mais seguro? 

 

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