20 Abril 2016      03:54

Está aqui

REPÚBLICA DAS BANANAS...OU DOS BANANOS?

Dia 14 de abril, 22h05m quando começo a escrever esta crónica. Depois de vários anos de crise económica (já lhes perdemos a conta), tenho a certeza absoluta que, desde ontem (13 de abril), Portugal entrou no rumo certo. Mais do que isso: somos agora um país extremamente desenvolvido, com perspetivas de futuro altamente risonhas. Só isso justifica que haja um partido que, neste momento, que queira mudar o nome do Cartão do Cidadão para Cartão da Cidadania, porque, e cito, “não respeita a identidade de género de mais de metade da população portuguesa”.

Na minha opinião, considero que os argumentos utilizados são completamente patéticos (para ser simpático). Haverá, honestamente, alguém que se sente descriminado pelo facto de o documento se chamar assim? Será que ninguém reparou que o Cidadão aparece com letra maiúscula, referindo-se ao universo de “indivíduos pertencentes a um estado livre, no gozo dos seus direitos civis e políticos, e sujeito a todas as obrigações inerentes a essa condição”? (definição do dicionário da Porto Editora). Será que alguém se sente descriminado quando, nos livros de História, se fala da evolução do Homem? E será que as médicas, engenheiras, advogadas se sentem fragilizadas porque as respetivas ordens se referem aos médicos, aos engenheiros ou aos advogados? Ou as minhas colegas de formação irão exigir que nos chamemos Ordem dos e das Economistas?

E depois disto vem o quê? O número de Eleitorado em vez de número de Eleitor porque deixa de fora as Eleitoras (ou será que, afinal, as mulheres ainda não podem votar em Portugal, só porque o número tem designação masculina)? A mudança do nome do 1º de maio só porque dá a entender que, afinal, as mulheres não trabalham (já que se festeja apenas o Dia do Trabalhador)? E o que é que fazem ao número de beneficiário da segurança social? Número de segurado social não dá… se alguém se lembrar de uma designação que a indique… (a menos que no nosso país as mulheres não tenham direito ainda à reforma). E já agora, da próxima vez que alguém me perguntar quantos filhos tenho, será que se responder 3, as minhas filhas me podem processar? Ou essa pergunta legitima-me a ofender quem me questionou, por não ter colocado a hipótese de eu ter dado ao meu filho, duas irmãs?

Este é só mais um dos exemplos que os nossos políticos teimam em mostrar que são uns patetas. Ah, peço desculpa, estava esquecido: e que as nossas políticas também são umas patetas. Não haverá mais nada com que a Assembleia da República se deva preocupar? Será que ainda vamos ver mandar tapar o peito desnudado da República porque é um atentado à imagem da mulher? Ou vão mandar fazer uma figura masculina, despida da cintura para baixo, a quem vão chamar Repúblico?

Definitivamente estamos entregues à bicharada. Uma autêntica república das bananas… ou será que tenho que acrescentar de bananos também?...

Imagem de capa daqui.