Foi como se, de repente, tudo fosse essência.
Aqueles que convoquei toda a vida clamam agora pela minha ignorância.
O potencial da diferenciação civilizacional está a tornar-se, cada vez mais, um hino societário, um grito contra as injustiças.
O atual engajamento global, tão do desagrado de alguns, reflete-se, no espaço europeu, e à escala mundial, onde os comprometimentos, por vezes, não funcionam, as simbioses quebram-se e os individualismos crescem. Crescem tanto, que chegam a assustar.
O recurso a histrionismos supera racionalidades. O tempo das toleimas existe em simultâneo com os crescentes argumentários inconsequentes.
Quando as repetições noticiosas banalizam em vez de esclarecer, somos ocupados por lugares banais, distanciamo-nos das reflexões inevitáveis.
A factualidade histórica revela-nos, cada vez mais frequentemente, o que de pior existe no ser humano. E, banalizando o crime, deixamos de pensar, de refletir as singularidades dos acontecimentos.
Mas, quando ao acordarmos, damos conta que a notícia já não nos afeta, a práxis transforma-se em vulgaridades.
Explodem bombas, já pouco nos impressionamos; naufragam pequenas embarcações, conformamo-nos; morre-se por pensar diferente, desviamos o olhar; reprimem-se manifestações a tiro, vulgarizamos; morre-se de fome… e a costumeira vinga.
A relativização da verdade, que nos é dada diariamente, e a genealogia dos acontecimentos, explorada até ao limite, nada esclarecem. Esta fatalidade discursiva apenas contribui para a instalação de consciências moralizantes e moralizadoras.
Mas, se para se ser cidadão não basta votar, não é com atual culto do desinteresse que se tem vindo a instalar, dando aso a que vingue alguma imbecilidade que, de outro modo, não se conseguiria fazer ouvir, que a cidadania interventiva triunfa.
Reflexões criticas, a partir de um corpus teórico, fundamentadas em coerências, tornam-se cada vez mais raras. Mesmo existindo um primado potencial, a forma como este é explanado origina apenas que o descrédito aumente e que o esclarecimento continue por fazer.
Enquanto a tónica não cair no factual, continuaremos por caminhos sinuosos revisitados por discursos obsoletos.
Que sentimento estranho este, em que preciso recusar à domesticação noticiosa e à vulgaridade opinativa, para procurar as verdades.
Como se a essência virasse insignificância e o histrionismo banalidade.
Precisamos ser outra coisa.